A sabedoria do mago da montanha

A boneca tinha apenas um braço e estava suja de terra e lama devido à chuva da noite anterior. Estava descartada fora da casa e, para mim, aquela imagem descrevia, de maneira incontestável, uma realidade de pobreza, tristeza e miséria. A exuberância das gigantescas montanhas geladas que rodeavam o lugar contrastava com a simplicidade da morada dos meus anfitriões.
Entrei naquela humilde residência com teto de palha e muros de pedras empilhadas. O chão, de terra, ainda estava úmido por causa da chuva. Lá dentro, três peles de ovelha serviam como camas para a família que ali residia.
Don Martin, o patriarca, era um mestre espiritual e um renomado Mago Andino sobre o qual eu tinha ouvido falar durante anos. Depois de vários dias de viagem, finalmente estava em sua casa.
Levei folhas de coca para mastigar com ele e pisco para oferecer à Pachamama. "Através da coca, nos comunicamos sem proferir uma palavra", disse-me o mestre. Os 73 anos de Don Martin poderiam ter passado por 50 para qualquer pessoa que tivesse visto ele.
Após algumas horas sentados, trocando folhas de coca e oferecendo o pisco à terra, rompi o silêncio: "Vim até aqui porque tenho algumas perguntas".
"Então pergunte", respondeu o ancião.
Hesitei por um instante, tentando formular minha questão da forma mais sensível possível. E então questionei: "Você é feliz?"
"Claro, meu irmão! Hahaha! Como não seria feliz? Tenho tudo: família, lar, comida, saúde e minha Pachamama que cuida de mim. Hahaha! E você, meu irmão?”
A pergunta me desmanchou por inteiro.
Engoli em seco, permaneci em silêncio, fingi um sorriso e peguei mais folhas.
No meio disso, percebi que uma centelha dentro do meu coração estava acendendo um fogo que irradiava um calor e conforto difíceis de descrever.
Nos minutos e horas subsequentes, e até nos sonhos daquela noite, compreendi como a felicidade está ao alcance de todos e como eu tinha a capacidade de acessá-la à vontade. Enquanto meu corpo tremia naquela noite gélida, meu coração ardia com um calor que amenizava qualquer desconforto.
Lembro-me sempre daquele episódio e de como aquela humilde família se sentia plena, mesmo vivendo em condições que muitos considerariam de extrema pobreza.
Agora entendo o que Don Martin me ensinou e por que fiz aquela viagem. Compreendo que a felicidade não provém de prazeres efêmeros e não é causada por nossas conquistas ou circunstâncias externas. Reconheço que a felicidade é uma semente que habita nosso coração.
Todos os dias, temos a escolha de cultivá-la e permitir seu florescimento ou, simplesmente, negligenciá-la e continuar a buscá-la onde ela não se encontra.
Quer começar? Observe o que for que esta do seu lado agora e se esforce por encontrar a beleza naquilo. Agradeça pelo que tem, agradeça pela oportunidade de viver.
Acredito que todos podemos viver num estado de plenitude, mas se sentir que não consegue saiba que estou aqui para lhe ajudar e acompanhar na sua jornada.
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